De uma América a outra, périplo de Bolsonaro traz promessas de resultados, mas impõe grandes desafios
Já vem de longa data a relação entre governos brasileiro e americano. Cada um a sua maneira e ao seu tempo se destacaram ora pela aproximação ora pelo distanciamento. Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, por exemplo, nutriam admiração intelectual um pelo outro, bem como as primeiras-damas. Lula, Bush e Obama ambos com jeito francos e pouco afeitos à mise-en-scène diplomática, contrariaram quem esperava dificuldades ideológicas.

O presidente Jair Bolsonaro não foge à regra. O prolífico encontro entre Bolsonaro e Trump, em março, esteve voltado a temas específicos da pauta bilateral: o acordo de salvaguardas tecnológicas para uso da base de Alcântara (MA), o reconhecimento do Brasil como aliado relevante extra-Otan dos Estados Unidos na área militar, isenção de vistos, além de barreiras mútuas às exportações.

Para afinar a tabela, após a troca de camisas, Trump anunciou o apoio dos Estados Unidos à pretensão brasileira de entrar na OCDE, ou seja, o clube dos países ricos. Mas houve uma contrapartida: a de que o Brasil deixasse a lista de países mais favorecidos da OMC, já que possui vantagens e flexibilidades nos acordos comerciais.

Trocando em miúdos, se a entrada do Brasil na OCDE, por um lado, impõe grandes desafios, por outro, devem ajudar o país a melhorar suas práticas nos negócios e no comércio. Alguns exemplos:

– Melhoria no ambiente regulatório;
– Modernização institucional;
– Aprimoramento da governança;
– E, uma vez que se confirme a adesão, o país terá que reformar políticas públicas, ou seja, isso ajudará nas reformas.

Em resumo, a entrada na OCDE catalisa reformas internas, além de credenciar o país para receber investimentos estrangeiros.

Já no hemisfério sul, Bolsonaro chegou ao Chile comprometendo-se a intensificar a aproximação entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico. A troca de ideias encontrou ressonância não só com o presidente Sebastián Piñera, mas também boa parte das nações sul-americanas.

Um ponto de destaque foi o estabelecimento de um novo marco de integração na região denominado Foro para o Progresso da América do Sul (Prosul). Assinaram o acordo: Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador, Guiana. Como consequência da reunião, foi dada por encerrada a União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Um dos projetos entre os governos brasileiro e chileno está o chamado corredor bioceânico, que ligará rodovias dos países da região aos portos do Chile, no Oceano Pacífico. Além disso, há medidas de liberalização comercial que devem também entrar em pauta.

O tour de force é uma expressão francesa que significa grande esforço. As primeiras viagens de Jair Bolsonaro – EUA e Chile – demonstraram perspectivas futuras. Isso poderá trazer bons ventos ao Brasil com relações bilaterais renovadas, além da intensificação de acertos multilaterais no Mercosul. O périplo de uma América à outra traz promessas de resultados, mas que fique claro: impõe grandes desafios.

Luiz Alberto Caser