Valor Investimentos: Bons ventos

2019, sob o ponto de vista da atividade econômica, pode ser encarado como um ano difícil. Três pontos contribuem para isso: contração do PIB e dos investimentos públicos, além do mercado de trabalho ainda fraco.

Outra marca foi o início de ano conflituoso. O novo governo, ainda sem rumo definido, havia afetado o humor de empresários e consumidores, cujas consequências refletiam na queda dos índices de confiança.

Passada a turbulência eleitoral e a lua de mel entre Executivo, Congresso e população, não contávamos com bons ventos. A máxima “depois da tempestade vem a bonança” caíra como uma luva no quadro político.

Os bons ventos vieram a partir de um Congresso com perspectivas mais reformistas, a subsequente queda da inflação e o cenário de corte de juros do FED, o banco central americano. Afastou-se também o risco de nova retração do PIB brasileiro ou sua estagnação.

A economia tem entrado nos trilhos. Segundo o último Boletim Focus (04/11) aumentou a chance de as projeções de crescimento do PIB – na casa de 2% em 2020 – não frustrarem novamente. O gatilho principal é o possível aumento da potência do corte de juros do Banco Central para estimular a demanda.

Por ora, colhemos os frutos do corte de juros entre 2016 e 2018. A nova rodada de redução de juros do BC ainda vai se materializar, reforçando a perspectiva de volta cíclica da economia.

Em paralelo, as concessões de infraestrutura e os leilões do pré-sal vão, lentamente, mudar a dinâmica desses setores, que se preparam para aumentar seus investimentos.

A recuperação está, pois, em seu estágio inicial. As dúvidas ficam para sua velocidade e extensão. No entanto, é perceptível a mudança dos ventos na economia.

 

Luiz Alberto Caser

 

 

Palavras-chave: recuperação econômica

Descrição: De um início de ano difícil, o novo governo, pela perspectiva da economia brasileira, começa a se consolidar diante de uma agenda reformista e com um Congresso também de caráter reformista.

Referências

https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2019/11/06/pacote-de-reformas-faz-cerco-a-irresponsabilidade-fiscal.ghtml

https://www.dahliacapital.com.br/carta-da-equipe-de-gestao-out19

 

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Valor Investimentos: Após a Reforma da Previdência, o que virá?

 

É preciso fazer jus aos resultados que o Ministério da Economia alcançou no primeiro semestre deste ano. Para lançar mão de alguns exemplos: cortes de 21 mil cargos no funcionalismo, programas de digitalização, revisão de benefícios previdenciários e autuações por fraudes no Imposto de Renda.

Não menos importante encontra-se o plano para recuperação financeira dos estados, privatizações e encolhimento dos ativos de banco públicos. Tudo isso tornou-se concreto apesar das previsões dos céticos.

Por outro lado, é preciso ressaltar o protagonismo do Congresso ao assumir a liderança na agenda de reformas. É aí que está o busílis. Mesmo que tenha funcionado no caso da Previdência, não há garantia de que os avanços continuem, ou seja, é sabido que há limites para o Congresso avançar sozinho, sem a liderança do Executivo.

De qualquer maneira, é bom refletir: após a reforma da Previdência, o que virá?

É razoável antever conflitos e dificuldades. Vamos aos principais itens resumidamente:

1. Reforma Tributária

Há duas ideias em discussão: a primeira está sob a liderança do economista Bernard Appy. O conceito é que se faça a unificação de cinco tributos – os federais PIS, Cofins e IPI, o estadual ICMS e o municipal ISS – num único, batizado Imposto de Bens e Serviços (IBS), com um período de teste e transição, ao longo de dez anos.
A proposta do governo é outra. Fundir num único imposto quatro tributos federais – IPI, PIS, Cofins e CSLL – e a contribuição das empresas sobre a folha de pagamento.

2. Pacto Federativo

A ideia é desvincular totalmente as despesas da União e transferir recursos a estados e municípios, eliminando despesas obrigatórias e devolvendo a gestão e a responsabilidade a prefeitos e governadores. Em vez de acabar com o ICMS e ISS para conter a guerra fiscal, deseja-se ampliar o poder arrecadatório local.

3. Privatizações

No plano de privatizações do secretário Salim Mattar, a meta para 2019 é: R$ 77 bilhões, dos quais R$ 50,6 bi já são dados como certos. Mais da metade corresponde à venda da TAG (R$ 33,5 bi). Há ainda as refinarias em Pasadena e no Paraguai (R$ 3,6 bi), participações da Caixa e do Banco do Brasil (R$ 5,8 bi), leilões de portos, ferrovias e aeroportos (R$ 7,7 bi).

4. Desburocratização e reforma do Estado

Outra meta do governo é elevar a posição do Brasil no ranking Doing Business, do Banco Mundial, que avalia o ambiente de negócios.

5. Comércio Exterior

A área que trouxe as duas grandes conquistas do governo: o apoio americano à entrada brasileira na OCDE e o acordo Mercosul-União Europeia. A integração das pastas do Planejamento, Fazenda e Indústria e Comércio foi fundamental para eliminar conflitos que emperravam as negociações e conter resistências protecionistas na indústria e outros setores afetados pela abertura.

Luiz Alberto Caser

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Valor Investimentos: Reforma da Previdência e incerteza global

Enviada a proposta da Previdência, a partir de agora o Executivo inicia a fase de articulação no Congresso. OCDE divulga dados econômicos pouco animadores.  

Dentre as notícias mais relevantes do mês de fevereiro destacam-se, pelo viés doméstico, a proposta da Previdência apresentada ao Congresso e levada em próprio punho pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro da economia Paulo Guedes. Já no cenário externo, senão afligem, ao menos preocupam as manchetes sobre um possível fim do ciclo de expansão da economia global.

Os parâmetros da reforma não fugiram muito aos termos que foram antecipados ao longo do tempo. Mais dura com os servidores públicos, a proposta é mais ambiciosa e robusta que a do ex-presidente Michel Temer.

É bom lembrar que, na ponta do lápis, a intenção do governo é obter uma economia que ultrapassa R$ 1 trilhão em dez anos. No entanto, entre as intenções e o resultado está o Congresso Nacional. O texto irá tramitar na Câmara dos Deputados e terá de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), cuja mesa diretora está em vias de ser definida.

Para isso, o governo terá de contar com uma peça hábil do xadrez, a fim de viabilizar a reforma: o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. É ele quem será, em boa parte, responsável pela articulação política na Câmara. Além disso, a influência sob a mesa diretora da CCJ será o primeiro teste de fogo.

Quanto ao estrangeiro, um relatório pouco animador divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta para uma desaceleração da economia global, mais pessimista que a do FMI. As novas projeções refletem os eventos dos últimos meses:

  1. EUA e China estão em persistente guerra comercial;
  2. Incertezas continuam sobre o Brexit;
  3. Enfraquecimento da Zona do Euro;
  4. Catástrofe político na Venezuela.

Ressalta-se que o PIB mundial e a inflação internacional perdem força, gerando choques negativos de demanda. É bom deixar claro que o Brasil, ainda que relativamente fechado em termos comerciais, tem sua dinâmica econômica afetada pelos ventos vindos de fora. Daí ser de extrema importância fazermos a tarefa de casa para que o vento vire brisa e não um tornado.

Luiz Alberto Caser

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Valor Investimentos: 2019 será de desafios

Jair Bolsonaro é eleito presidente do Brasil, sinalizando junto ao futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, reformas como a da Previdência. Certamente o ano de 2019 será de grandes desafios: o ano corrente é o quinto consecutivo em que o governo brasileiro apresenta um déficit primário. Mais uma vez, adotar uma agenda reformista será de grande importância. Reformas estruturais como a reforma da previdência se tornam condição necessária para que o Brasil consiga diminuir o risco fiscal e inicie um ciclo de crescimento sustentável.

No cenário externo houve forte movimento de abertura de juros, em especial nos EUA. Membros do FED indicaram confiança em prolongar o ciclo de aperto monetário, o qual teve impacto direto nos ativos, que ao longo do mês tiveram significativa queda. Além disso, o governo Trump prepara novas tarifas contra a China. O anúncio deve ser feito no início de dezembro, caso as negociações fracassem em novembro. No México, o presidente eleito, López Obrador, cancela aeroporto bilionário e desagrada investidores. A decisão rejeitou o projeto de US$ 13 bi. Seguem pontos de atenção no momento para o cenário global: eleições legislativas nos EUA; relação comercial entre EUA e China; embate sobre política fiscal entre Itália e União Europeia; sinais de estabilização nos dados econômicos fora dos EUA e a negociação entre Reino Unido e União Europeia quanto ao Brexit.

No Brasil, fomos exceção e tivemos notícias e mercados um pouco melhores do que o ambiente externo. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros inalterada em 6,5%. A decisão veio em linha com expectativas do mercado. O dólar fechou outubro com a maior queda mensal desde junho de 2016, -7,80%. O PIB da zona do Euro desacelera expansão para 0,2% no 3º trimestre. E o Ibovespa teve o maior giro médio (R$13,3 bi) mensal desde o início do Plano Real, fechando no acumulado até 31 de outubro alta de 10,19% com o segundo melhor desempenho do ano. Por fim, os juros futuros de longo prazo recuam 2 pontos percentuais em outubro.

Luiz Alberto Caser Filho         

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Valor Investimentos: Cenário de incerteza econômica

O cenário político segue confuso. No início do mês ocorreu o atentado ao candidato Jair Bolsonaro, e poucos dias depois a proibição da candidatura de Lula pelo TSE. É difícil imaginar um desenlace que não seja um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

A ata da última reunião do Copom manteve a taxa básica de juros em 6.5% ao ano e mostra os dados de inflação com projeções para 2019 a 2021 acima das metas definidas, o que deixa claro o viés de alta para a Selic. Caso o real siga no processo de depreciação, o início do ciclo de alta poderia ocorrer já em outubro. Do contrário, o Copom deve manter os juros estáveis por um período mais longo com o intuito de avaliar os efeitos dos movimentos cambiais passados. Sendo assim, o processo de elevação da taxa básica seria para o início de 2019.

Em setembro o mercado continuou bastante volátil, com o Índice Bovespa fechando o mês positivo em 3.48%, principalmente pela alta das ações de Petrobrás e Vale. O cerne em questão continua sendo o processo eleitoral brasileiro, incerto e bastante atribulado. No contexto atual, a retomada da atividade continua bastante lenta, com os indicadores de confiança mostrando quedas recentes, influenciados principalmente pelo cenário político.

Nos EUA, o núcleo da inflação em agosto acumula 1,96% de variação nos últimos 12 meses. Os dados recentes de inflação surpreenderam para baixo, insinuando que a valorização do dólar desde o segundo trimestre do ano teve efeito sobre os preços da economia, mesmo com o mercado de trabalho apertado e forte crescimento da atividade econômica. O Fed elevou a taxa básica de juros para o intervalo entre 2.0% e 2.25%, em linha com o esperado pelo mercado.

Na Zona do Euro, a inflação mostrou variação mensal de 0.03% em setembro e acumula 0.9% nos últimos 12 meses, abaixo do objetivo do Banco Central Europeu. A ausência de pressão inflacionária na Europa possibilita uma retirada gradual dos estímulos monetários.

Em suma o que se pode dizer é: temos um cenário que reúne juros nos EUA em alta, liquidez global mais restrita para mercados emergentes, e elevada incerteza associada aos impactos da eleição Presidencial no Brasil.

Luiz Caser

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